Suicídio profissional?
Ultimamente, eu queixo-me muito. Ok, também não me queixo assim tanto, mas pelo menos ultimamente ando a queixar-me mais do que o normal. Em especial porque tenho passado os últimos tempos a chatear-me todas as segundas-feiras de manhã por coisas que são ditas ou que alguém não disse e devia ter dito em reuniões de trabalho. Cada vez que acordo à segunda-feira já sei que me vou chatear, é um óbice com que agora tenho de viver. Deve ter a ver com o mundo do trabalho, sei lá, pelo que vou estender o meu "acho que odeio Agosto" a "acho que odeio segundas-feiras de manhã", ainda que não seja por aquela razão mais óbvia do "acabou-se o fim-de-semana". Ora, como me tenho andado a chatear todas as segundas-feiras, tenho vindo a achar que estava com problemas (tb n sou nada exagerada)... Até que me chegou um mail com um pdf. de um artigo da Sábado que aqui juntei como foto (gracias Jardim!!) e concluí que, afinal, há quem tenha problemas bem mais sérios que eu...
Sucede que um coleguinha Advogado-Estagiário resolveu publicar um livro sobre a vida num escritório de Advogados. Consta que já o vinha a escrever desde o 3º ano da faculdade (eu vi escrevinhar umas folhitas e ouvi dizer "ah e tal, ele tá a escrever um livro", mas sinceramente, na altura não quis saber), baseado em "testemunhos" de outras pessoas ou mesmo apenas na sua imaginação, mas a verdade é que sai publicado numa altura em que Sua Excelência já é Advogado Estagiário e já trabalha numa sociedade de Advogados e como se tal não bastasse, essa mesma sociedade é uma das mais conotadas e afamadas na nossa praça e é parte de uma rede internacional de escritórios com o mesmo nome.
Ora, nada de problemático caso o Senhor não tivesse resolvido contar, segundo consta, a história de um Advogado Estagiário num escritório de machistas capitalistas cocaínados que não têm um pingo de ética... (tou a ver a cara do Barrister Mr. English e do Mâitre Français do internacional quando a notícia lhes chegar às mãos...)
Não li o livro, confesso.
Mas tenho que dizer que, pelo menos do que li sobre o livro no artigo, não consigo perceber estas pessoas.
Liberdade criativa e de expressão, sim senhor, concordo, as pessoas devem explorar as suas capacidades e dar corpo às suas ideias, mas assim e nestas circunstâncias?
- menos -
É que não me venham dizer que o senhor vai conseguir convencer a população em geral de que o sócio ficticio da sociedade ficticia sobre a qual inventa a sua história não foi baseado numa qualquer personagem com quem convive diariamente... Nem que a estagiária que anda com o sócio só para assegurar o lugar depois do estágio e que, provavelmente, é comida à grande num gabinete cujas persianas se podem fechar e até deve ter sido construído insonorizado já de propósito, não é aquela que se senta mesmo no canto da sala do escritório do autor... Eu, só de ler o artigo, já fiz alto filme... Eu e qualquer outra pessoa normal direi. (tou outra vez a ver a cara do Barrister Mr. English e do Mâitre Français do internacional quando a notícia lhes chegar às mãos...)
Não quero dizer que o meu coleguinha é estúpido (só não o quero dizer porque pensar, epá, não há hipótese!)... Digamos que chegou certamente atrasado no dia da distribuição do bom senso... Aliás, literário como é, será que nunca ouviu falar em pseudónimos? É que a utilização de um pseudónimo não é uma demonstração de falta de coragem nem um tentar esconder opiniões atrás de um nome inventado, é apenas uma excelente maneira de conseguir despertar o interesse da comunidade em geral (até em especial desta da advocacia a que pertenço) sem conseguir manchar, pelo menos, o nome da sociedade a que pertence (também tou a ver a cara do próximo gajo que receber um CV deste estagiário especificamente). E o nome e a imagem dos Advogados em geral, diga-se (aqui é a parte em que eu defendo a Classe!), que já não é favorável, regra geral. Por muito que eu, até agora, tenha uma ideia e convicção sobre o mundo da advocacia completamente diferentes das explanadas no livro (ou no artigo, melhor dizendo), a verdade é que toda a gente acha que somos uma cambada de aldrabões trafulhas e brilhantes postas de pescada como esta do meu coleguinha... epá... não ajudam. Passámos, agora, a ser uma cambada de aldrabões trafulhas machistas capitalistas e, como se não bastasse, cocaínados.
Eu queixo-me, é verdade, de nem todos os meus colegas terem os mesmos princípios éticos e deontológicos que me têm vindo a ser ensinados, de alguns dos meus colegas serem autistas e viverem no mundinho deles e não terem noção da realidade, queixo-me de alguns dos meus colegas serem sonsos ou não terem iniciativa própria, queixo-me da comida do almoço e de o meu guardanapo ainda não ter as minhas iniciais correctas, mas nunca poria em causa a imagem do escritório onde estou e não hesitaria em rispostar ferozmente contra quem o fizesse (já para não falar nas imensas e utópicas tentativas de convencer quem me quiser ouvir que são raros os Advogados canalhas e não o contrário). Não consigo achar que até a publicidade negativa é boa publicidade (nem eu nem o Barrister Mr. English e o Mâitre Français do internacional quando a notícia lhes chegar às mãos...)
Estava eu preocupada que me pusessem um caixotinho de papel à frente para arrumar as minhas coisinhas por abrir a boca e levantar a voz às segundas-feiras de manhã... Se calhar enganei-me na maneira de cometer suícido profissional... Há, de facto, maneiras mais eficazes ;)
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